terça-feira, 18 de abril de 2017

“Comer Animais” – Um panorama assustador…




Em seu primeiro livro de não ficção, Comer animais, Jonathan Safran Foer, autor do premiado Tudo se ilumina, publicado pela Rocco, mergulha no mundo da chamada pecuária industrial nos Estados Unidos – a criação intensiva de aves, porcos e bois –, assim como na pesca em larga escala e suas implicações para o meio ambiente. Após três anos de pesquisas, o resultado é um panorama assustador. Para que, levando em conta a inflação, a proteína animal custe hoje mais barato do que em qualquer outro momento da história americana, animais são submetidos a maus-tratos e abatidos para o consumo deformados e doentes; há pouco ou nenhum escrutínio público e supervisão eficiente por parte das autoridades sanitárias; rios e cursos d’água subterrâneos são poluídos por excrementos e dejetos da produção, com os custos, no sentido mais amplo da palavra, repassados à sociedade; e os ecossistemas do planeta correm risco de colapso em um futuro não tão distante.

Vegetariano esporádico, Safran Foer começou a pensar mais seriamente em suas opções alimentares quando seu filho mais velho nasceu. A preocupação com a origem da carne e a forma como é processada o levou a investigar a indústria alimentícia e, apoiado em estatísticas do governo americano e em fontes acadêmicas e industriais, ele teve a oportunidade de ouvir insiders do negócio, cientistas, membros de entidades defensoras dos direitos dos animais, chegando até mesmo a invadir uma granja e a testemunhar as terríveis condições do local. Esse apanhado de dados é de arrepiar o mais devoto carnívoro: a indústria de carne ocupa cerca de 1/3 das terras do planeta; o setor pecuarista é responsável, globalmente, por 18% das emissões de gás estufa; e um só método de pesca, o feito com espinhéis, mata 4,5 milhões de animais anualmente, incluindo 3,3 milhões de tubarões, 60 mil tartarugas marinhas e 20 mil golfinhos e baleias. Além disso, a criação animal usa, a cada ano, 756 milhões de toneladas de grãos e cereais para alimentar aves, porcos e gado bovino, bem mais do que o necessário para alimentar o 1,4 bilhão de seres humanos que vivem em extrema pobreza, cenário que tende a se agravar com o avanço do consumo dos variados tipos de carne em países emergentes como a China e a Índia. Sem esquecer a importância que o ato de comer representa nas mais diversas culturas, pois é à mesa, com suas memórias e histórias, que, desde sempre, se forja a fraternidade, Safran Foer propõe um debate ético sobre o consumo alimentar dos animais. Ele defende o vegetarianismo como uma opção mais sensata de pecuária e um onivorismo mais honrado, que traga benefícios para o meio ambiente.

O escritor também advoga um retorno ao antigos métodos de criação, menos traumatizantes para os bichos e para os ecossistemas, a imagem da fazenda bucólica tão associada aos valores americanos e que, hoje, representa apenas 1% de toda a produção nos Estados Unidos. Em última análise, Safran Foer pede aos leitores que ponderem sobre a decisão moral de comer outro ser vivo e que, se necessário fazê-lo, lutem por mudanças que permitam aos animais serem tratados com compaixão e dignidade, de forma que mesmo o abate seja feito de maneira que provoque o mínimo de sofrimento possível a aves, porcos e bois.

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