O espiritismo tem em Alan Kardec a sua principal estrela. Seu verdadeiro nome é Hippolyte Léon Denizard Rivail. Nasceu em Lyon, na França, em 3 de outubro de 1804. Anos depois, mudou-se para Yverdun, na Suíça, onde estudou com Pestalozzi. Kardec formou-se em letras e ciências e doutorou-se em medicina. Em 25 de março de 1856, numa sessão, Kardec recebeu, através de uma médium, a informação de que dali por diante, um espírito denominado “A Verdade”, seria o seu guia espiritual. Em 18 de abril de 1857, publica O Livro dos Espíritos, uma obra contendo mais de mil (1.019) respostas às perguntas feitas aos espíritos. Outras obras foram publicadas depois: O Evangelho Segundo o Espiritismo, A Gênese, O Céu e o Inferno, O Livro dos Médiuns, O Que é o Espiritismo e Obras Póstumas. Kardec faleceu no dia 31 de março de 1869, em Paris, aos 65 anos de idade, vítima de aneurisma cerebral. Na França de hoje, não há mais de mil adeptos do espiritismo.
No Brasil, o espiritismo faz grande sucesso e tem várias facetas: a Legião da Boa Vontade (LBV), a Cultura Racional (que publica o livro Universo em Desencanto), o Racionalismo Cristão, o Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento e o espiritualismo relacionado à umbanda, ao candomblé, à quimbanda e à macumba, cujas raízes religiosas vieram diretamente da África, misturando-se com as crenças indígenas. Os números são expressivos: 16 mil centros espíritas, 2,3 milhões de pessoas seguem o espiritismo e estima-se que um total de 20 milhões de pessoas esteja ligado a essa religião.
- O Brasil é um país místico e com grande atração pelo sobrenatural.
- A falha do catolicismo romano em atender aos anseios espirituais de seus membros e os escândalos de pedofilia.
- A fachada cristã do espiritismo.
- o aspecto consolador do espiritismo.
O nome mais conhecido no espiritismo brasileiro é o de Francisco Cândido Xavier. Chico Xavier nasceu no dia 02 de abril de 1910 na cidade de Pedro Leopoldo, MG, a 35 quilômetros ao norte de Belo Horizonte e faleceu no dia 30 de junho de 2002, na cidade de Uberaba, MG. Teve uma infância turbulenta e sofrida. Órfão de mãe aos cinco anos, foi criado pela madrinha que, segundo ele, o surrava três vezes ao dia. Ainda na infância teve a sua primeira visão, quando afirmou ter conversado com sua mãe falecida. Isso lhe valeu uma penitência imposta pelo padre local, de rezar mil ave-marias, além de carregar uma pedra de 15 quilos.
Segundo a Superinteressante, Chico Xavier não foi o pioneiro no Brasil de tais práticas. Na década de 20, a carioca Yvonne do Amaral Pereira já psicografava recitas do médico Bezerra de Menezes, morto no século 19. Em Minas, Zilda Gama colocava as mãos sobre os olhos e escrevia livros com a assinatura dos espíritos (p. 52).
As pessoas que mais procuravam o médium eram as mães, principalmente, aquelas que perderam seus filhos. Uma delas, a paulista Sônia Muzkat, recebeu a primeira mensagem do filho Roberto em 1979, morto aos 19 anos de idade. Algumas das cartas vinham com frases em hebraico, já que Sônia e o marido são judeus. A explicação de Chico Xavier é que Roberto estava aprendendo o hebraico numa colônia judaica no mundo celestial. David, o pai de Roberto desconfiou. Depois acreditou quando um cheiro de gardênias invadiu a sala no momento de uma sessão de psicografia.
Entretanto, muitos desconfiam até hoje de tais mensagens. Outros dizem que Chico conseguia as informações através de funcionários do centro espírita que iam à fila pegar detalhes dos mortos. Um companheiro de Chico, Valdo Vieira, que com ele psicografava, diz que as mensagens de Chico continham tais informações.
Um dicionário espírita define psicografia como “a transmissão do pensamento do Espírito, mediante a escrita feita com a mão do médium… É a escrita psíquica. O Espírito se manifesta escrevendo a sua mensagem, e a manifestação é tanto mais perfeita quando menos consciente é o médium”.
Kloppenburg informa que vários textos psicografados por Chico já foram examinados. Para Agripino Grieco, os de Humberto de Campos, mestre da literatura, são mesmo bastante inferiores aos escritos em vida (Diário da Noite, São Paulo, 26/06/1944). Já para João Dornas Filho, o poeta Olavo Bilac, em vida, nunca assinou um verso imperfeito – depois de morto ditou ao Sr. Chico Xavier sonetos inteirinhos abaixo de medíocres! Cheios de versos mal medidos, mal rimados e, sobretudo, numa língua que Bilac absolutamente não escrevia. Nem Chico tinha certeza se o que psicografava era realmente dos espíritos do além. É o que aparece no prefácio de Parnaso de além túmulo: “O que psicografo será de personalidades que assinam os poemas? É o que não posso afiançar”.
Superinteressante (p. 55) informa que Chico poderia ter plagiado obras, de acordo com as investigações do espírita Vitor Moura, criador do site Obras Psicografadas. Dois textos são apresentados como exemplo:
“Ao norte, os barrancos cobertos de neve do Hermon se recortam em linhas brancas no céu; a oeste, os planaltos ondulados da Gaulonítida e da Pereia.” (Vida de Jesus, do filósofo Ernest Renan).
“Ao norte, as eminências nevosas do Hermon figuravam-se em linhas alegres e brancas, divisando-se ao ocidente as alevantadas planícies da Gaulanítida e da Pereia” (Há Dois Mil Anos, de Chico Xavier).
Amauri continua: “Passei a viver pressionado pelos adeptos da chamada terceira revelação. A situação torturava-me e, várias vezes, procurando fugir àquele inferno interior, entreguei-me a perigosas aventuras. Diversas vezes, saí de casa, fugindo à convivência de espíritas. Cansado, enfim, cedi, dando os primeiros passos no caminho da farsa constante. Teria 17 anos. Ainda assim, não me vi com forças para continuar o roteiro. Perseguido pelo remorso e atormentado pelo desespero, cometi desatinos. Em algumas oportunidades, tentei recuar, sucumbindo atordoado. Vi-me, então, diante de duas alternativas: mergulhar de vez na mentira e arruinar-me para sempre ou levantar-me corajosamente para penitenciar-me diante do mundo e de mim mesmo, libertando-me definitivamente. Foi o que resolvi fazer, procurando um jornal mineiro e revelando toda a farsa. Sei das reações que minhas declarações causarão. Mas não me importo. O certo é que, enquanto me sacrificava pela propaganda de uma mentira, não me julgavam maluco. Não desmascaro meu tio como homem, mas como médium. Chico Xavier ficou famoso pelo seu livro Parnaso de além túmulo. Tenho uma obra idêntica e, para fazê-la, não recorri a nenhuma psicografia”.
Nessa época, o médico Valdo Vieira, amigo e companheiro de muitos anos, se afastou do espiritismo e de Chico. Marcel Souto Maior conta como foi:
Após deixar sua assinatura ao lado da de Francisco Cândido Xavier em dezessete livros, o “médico humanitário” virou as costas para o espiritismo, “estreito demais”, e seguiu carreira solo. Estava cansado de Chico, “tão frágil, tão suscetível, tão chorão”, estava cansado da sacralização em torno de seu parceiro e do “populismo” das sopas diárias, das peregrinações semanais e das distribuições natalinas. Queria distância da culpa cristã, da caridade, das lições evangélicas. Ele não iria se conformar, não iria agradecer a Deus pelos seus sofrimentos, não viveria atrelado a guias espirituais, não se submeteria a ser um eterno datilógrafo de textos do alem.
Valdo abandonou a doutrina espírita e definiu sua saída da Comunhão como “uma benção”. Leitor voraz, dono de uma biblioteca com 60 mil exemplares, ele fundaria não uma seita, mas uma ciência batizada de “projeciologia”. Iria estudar as projeções de consciência, as experiências fora do corpo físico. Em 1986, lançaria um livro sobre o assunto – um calhamaço de mil páginas coberto por 1.907 citações extraídas de mais de 5.500 títulos específicos.
Chico foi indicado duas vezes para concorrer ao prêmio Nobel da Paz. Em 1981, foi indicado pelo médium baiano, Divaldo Franco, tido por muitos como seu sucessor. A indicação contou com o apoio de 10 milhões de brasileiros. Em 1982, a indicação veio do então líder do PMDB na Câmara Federal, Freitas Nobre.
Misturar psicografia com decisões jurídicas só serve para demonstrar que o Brasil não é mesmo um país sério (fase atribuída a Charles de Gaulle). A tentativa de tomar decisões com base em experiências espirituais subjetivas foi rejeitada nas Filipinas. É o que relatou a BBC de Londres em 18/08/2006:
Um juiz filipino que dizia tomar decisões com a ajuda de duendes foi definitivamente afastado da magistratura pela Suprema Corte do país, informou o jornal Philippine Daily Inquirer.
Matérias na imprensa filipina afirmaram que toda sexta-feira o juiz trocava a beca azul por negra, para “recarregar os poderes psíquicos”. Mas os argumentos não comoveram a Suprema Corte, para quem tais poderes “não têm lugar” no Judiciário. “Fenômenos psíquicos, mesmo assumindo que existam, não têm lugar na determinação do Judiciário de aplicar apenas a lei positivista e, na sua ausência, regras e princípios igualitários para resolver controvérsias”, diz a sentença. Durante as audiências do processo, os médicos da Suprema Corte e do próprio juiz haviam afirmado que o réu sofria de problemas mentais.
Na visão da Suprema Corte, a aliança de Floro com duendes “coloca em risco a imagem de imparcialidade judicial, e mina a confiança pública do Judiciário como guardião racional da lei, isto é, se não torná-lo objetivo do ridículo”.
O Espiritismo pretende ser a terceira revelação de Deus à humanidade. A primeira revelação teria vindo através de Moisés, a segunda através de Jesus e a terceira, através do espiritismo. Observe esta declaração de Kardec: “Reconhece-se que o Espiritismo realiza todas as promessas do Cristo a respeito do Consolador anunciado. Ora, como é o Espírito da Verdade que preside ao grande movimento da regeneração, a promessa da sua vinda se acha por essa forma cumprida, porque, de fato, é ele o verdadeiro Consolador.” (A Gênese, 34).
a) Deus proíbe tal forma de comunicação: Êxodo 22.18; Levítico 19.31; Deuteronômio 18.11-13;
Isaías 8.19.
b) O Episódio de Saul e a Pitonisa de Endor (1º Samuel 28.13, 14). Observe as razões que admitem fraudes nesta manifestação demoníaca:
- Saul perdera a graça de Deus (1º Samuel 28.6) e isso por desobediência (1º Samuel 15.23).
- Pela vontade de Deus, Saul havia desterrado os necromantes (1º Samuel 28.3).
- Deus não respondia mais a Saul (1º Samuel 28.6), nem por Urim (revelação sacerdotal, nem por sonhos (revelação pessoal) e nem por profetas (revelação inspiracional.
- Não se pode conceber que Deus tivesse proibido tal forma de comunicação e ao mesmo tempo a permitisse (Malaquias 3.6 e Tiago 1.17).
- A conseqüência do passo de Saul (1º Crônicas 10.13).
- A falsa profecia do suposto Samuel: não morreram todos os filhos de Saul (1º Samuel 28.19). Ficaram vivos pelo menos três filhos: Isbosete (2º Samuel 2.8-10), Armoni e Mefibosete (2º Samuel 21.8). Compare isso com 1º Samuel 3.19.
a) O lema de Kardec: “Nascer, morrer, renascer e progredir sempre; esta é a lei” (Epitáfio no túmulo de Allan Kardec).
b) Definição: A crença de que a alma se transfere de uma existência física para a outra, até que, depois de muitas vezes ter vivido aqui na terra, a alma é liberada da existência terrena e absorvida pelo Absoluto.
- Pluralidade de existências: Kardec declarou: “… é só depois de várias encarnações ou depurações sucessivas, num tempo mais ou menos longo, e segundo seus esforços, que eles atingem o objetivo para o qual tendem” (O Livro dos Espíritos, cap. IV, p. 196).
- Expiação e progresso contínuo até a perfeição. O objetivo da reencarnação é, pois, “expiação, aprimoramento progressivo da humanidade” (Ibidem, cap. IV, p. 167).
- Alcance do objetivo final pelo esforço próprio. O alvo de cada existência é que o espírito procure expiar as faltas cometidas anteriormente. “Toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída que deverá ser paga; se não o for em uma existência sê-lo-á na seguinte ou seguintes” (Kardec, O Céu e o Inferno, cap. 7,9).
- Libertação final do corpo: porque cada nova existência será “feliz ou infeliz segundo o que tiverem feito neste mundo, e podem, a partir desta vida, se elevarem tão alto que não temerão mais a queda no lodaçal” (Kardec, O Livro dos Espíritos, Instituto de Difusão Espírita, Araras, 1984, 22 edição, p.20). Essa idéia foi emprestada do hinduísmo, onde o espírito deve progredir até escapar do sansara, o ciclo ou roda de reencarnações.
- A possibilidade de João Batista ser Elias (Mateus 11.14). João Batista foi um profeta de ministério semelhante, não o próprio Elias. Houve apenas uma identidade de ministério. Se Elias não morreu (2º Reis 2.11), não poderia reencarnar. João negou ser Elias (João 1.21).
- O verbo ser nem sempre pode ser interpretado literalmente na Bíblia: Mateus 12.46-50; 26.26.
- O diálogo de Jesus com Nicodemos (João 3.3, 5) – nascer de novo significa ser regenerado (1ª Pedro 1.23; Tiago 1.18; João 16.7-9).
- Purificação de pecados apenas através do sangue de Jesus (1ª João 1.7; Apocalipse 1.5).
- Veja ainda 2º Samuel 12.22, 23; Salmo 78.39; Lucas 16.19-31 e Hebreus 9.27.
- A Bíblia fala de ressurreição (a volta no mesmo corpo) e não de reencarnação.
a) Declaração de Allan Kardec: “Fora da caridade não há salvação” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 631).
b) Declaração de Léon Denis: “Não; a missão do Cristo não era resgatar com o seu sangue os crimes da humanidade. O sangue, mesmo de um Deus, não seria capaz de resgatar ninguém. Cada qual deve resgatar-se a si mesmo, resgatar-se da ignorância e do mal. Nada de exterior a nós poderia fazê-lo. É o que os espíritos, aos milhares, afirmam em todos os pontos do mundo” (Cristianismo e Espiritismo, p. 98).
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